quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Vamos, sim!

Com atraso injustificável de três meses, falo um pouco do fabuloso show de João Bosco no Teatro Rival, com as naturais impossibilidades de quem, segundo a própria filha, carrega a memória no celular...
O show fez parte de uma longa e fecunda turnê de lançamento do disco Não vou pro céu, mas já não vivo no chão, que já andou por todo o Brasil, Europa, Cabo Verde e além, e continua, semana passada em Caruaru, tomara que logo logo de volta ao Rio.
O título do disco vem dos versos de uma das canções que marcaram a retomada da parceria com Aldir Blanc. Após assistir ao show de lançamento do trabalho no Teatro Rival, permito-me discordar: Vai pro céu, sim! Vamos todos, pelo menos na hora e cinquenta que dura a apresentação.
Para quem tiver interesse e paciência de ler, quando o disco foi lançado, em 2009, escrevi uma longa resenha num e-mail para um grupo de apreciadores da canção brasileira, egressos, o grupo e os apreciadores, das oficinas de letra de canção de Francisco Bosco (filho do João), Fred Martins e Marcelo Diniz, das quais já falei aqui.
O show pega bons momentos do disco e os mescla com outros ótimos momentos da carreira de João Bosco, o que já é dizer muito. Ao lado de um trio de músicos feroz e animadíssimo, que começa no patamar mais alto do samba-jazz ou samberklee, como brincou Caetano, em referência ao Berklee College of Music, tocando uma versão demolidora de Incompatibilidade de Gênios. Esse primeiro set do espetáculo é todo intenso, com Ricardo Silveira (guitarra),  Ney Conceição (baixo) e Jurim Moreira (bateria) unindo-se ao violão de João e claramente se divertindo muito com as combinações de arranjo. As músicas do disco novo aparecem pra dar uma suavizada, como em Perfeição. Pena que os três meses de lapso não me deixam lembrar da lista de músicas e de detalhes de execução.
O segundo set é de João e seu violão, ele que como outro João, guarda uma relação muito íntima e especial com seu instrumento. É a hora de ouvirmos versões delicadas e intensas de canções do disco novo, como a desnorteante Desnortes e a indispensável Tanto Faz, clássicos de João Bosco como  e joias da canção brasileira, de Caymmi a Paulinho da Viola, passando por Tom Jobim, pra vocês sentirem a dimensão da coisa.
O terceiro set é João correndo pro abraço, tocando aquelas músicas que todo mundo quer ouvir: Papel Machê, Corsário, Quando o Amor Acontece, Jade etc. A energia circulando entre palco e plateia no Rival daria para abastecer um povoado por algumas semanas, caso a tecnologia dos homens já soubesse converter vibrações musicais e amorosas em eletricidade.
Como já falei aqui, João Bosco e Chico Buarque me parecem dois artistas que conseguem, a essa altura de suas vidas, criar canções inéditas que nos chegam com o frescor de um artista novo, desconhecido, de quem ouvimos uma música e dizemos "esse ainda vai longe". Também como Chico, quando João diz alguma coisa, vê-se nitidamente que aquilo foi pensado, refletido, sentido.
O mundo dá tanta volta que dia desses, depois de ver o Flamengo (meu e de João hehehe) despachar mais um adversário rumo a Tóquio (o Mundial de Clubes ainda é no Japão? Lá se vão 30 anos...), fiquei relaxando vendo um minicapítulo de O Astro, remake de novela lançado pela Globo com a versão original da música tema de João e Aldir, Bijuterias, na abertura. Que soa ainda hoje moderna, uma espécie de bolero-soul-rap. com seus trechos falados, que lembram também a recente Tipo um Baião, do Chico. É como se os compositores quisessem explicitar a relação da fala com a canção.
Se João Bosco passar na sua cidade, largue tudo e vá ver. Afinal, quando um cara que mora dentro da casca do próprio violão sai por aí arrastando a casa, há que se ter ouvidos de ouvir.

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