sábado, 19 de junho de 2010

Um disco aos sábados - Agora o céu vai ficando claro (Regina Machado)

Não sou um irremediável saudosista, ao contrário do que as mil palavras aí ao lado podem sugerir, mas continuo achando que a audição de canções em um álbum, com uma sequência predeterminada, com um conceito artístico as amalgamando, é uma experiência estética única e relevante, assim como o modo aleatório do Ipod, que é outra onda.

O disco que me fez hoje reafirmar essa convicção - e me distrair um pouco de outro um a zero nessa irresístivel e morna Copa do Mundo (irresístivel por fazer parte da infinitologia épica que retorna a cada quatro anos, infalível, e morna pela escassez de brilho e gols, e pela concentração de 20 jogadores em mil metros quadrados de um espaço que foi feito com sete mil pra se jogar. Pra vocês verem o poder gravitacional da bola...) é Agora o céu vai ficando claro, de Regina Machado, com composições de Fred Martins, Chico Saraiva, Celso Viáfora, Luiz Tatit e outros.

Não conhecia a Regina, que tem uma voz que me lembrou Mônica Salmaso, só que mais imperfeita, no bom sentido. Acompanhada pelos brilhantes violões de Italo Peron e Norberto Vinhas (com direito a crédito na capa), vocais e percussão vocal dela mesma, Regina desfia um repertório delicado e intenso, em que as canções conversam entre si, e o backing vocal de uma faixa reaparece em outra, como amigos que se encontram por acaso no metrô. Em alguns momentos a gente nem percebe que o disco passou pra outra faixa, sem que com isso a levada das canções caia na mesmice.

Embalados em melodias bem desenhadas, espalham-se pelo disco versos como "Quem vive sofrendo, um dia se acostuma / Quem vive chorando, um dia se acostuma / Quem vive perdendo, um dia se acostuma / Ah, meu amor, se for pra acostumar / Prende a tristeza no pé da mesa / E vamos nos amar / Pra se desconhecer / Depois se acostumar" (Costume - Chico Saraiva, Celso Viáfora) ou "Usando as chaves da cidade / Eu tranco as portas / marginais / e o metrô / Será a cidade enfim / De mais ninguém / Só de nós dois / Eu quero a cidade assim / Não em milhões / toda pra nós dois / Carros bagunçados pelas ruas / quase tudo que passou / De rosto colado nós / dançamos sobre esse chão / multicolor" (Multicolor - Leo Bianchini, Fabio Barros)


O título do álbum saiu da letra desta bela parceria de Fred Martins e Francisco Bosco (cujo verso mais desconcertante, no entanto, é "Eu que tô sem chão no alto da gangorra")


Perfeitamente, de Fred Martins e Francisco Bosco, por Regina Machado

Reparem que a segunda estrofe da canção, que se inicia com o verso da gangorra, vem com ritmo acelerado e a melodia torna-se picada, nervosa, criando um efeito, digamos, dramático. O céu vai ficando claro, você me esquece e eu afundo. Essa foi digna do tempo do toca-discos, aliás em perfeito contaponto à proposta da letra de O Samba me Diz, que abre o disco, e da qual já falamos aqui.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Todos Juntos Vamos

O post ia se chamar A Copa e o Imponderável, mas não custa nada fazer um chamamento à união nacional nesta hora difícil em que faltam pouco mais de 15 horas pra bola rolar pra seleção canarinho em sua décima-nona Copa do Mundo - e minha décima, descartada a participação na de 70, em que piquei papel durante toda a final e criei um jogador imaginário, o 'Gonabara", que inclusive desfilou em carro aberto pela principal avenida de Niterói. Eu tenho a fita K7 para provar.
Pois bem, se você não for uma ovelha desgarrada do rebanho, está roendo as cervejas e pondo pra gelar as unhas, ou algo assim, não me cobrem coerência a esta altura! Ainda mais com o Klose ameaçando bater o recorde do Gordo de gols em Copas!
Mas a parte do imponderável é o seguinte. O bolão familiar rola a pleno vapor, e, depois de 11 jogos, a Clara, 5 anos, que além de não fazer ideia se é melhor o Maradona escalar o Aguero no lugar do Higuain no ataque, tem apenas uma vaga noção do que seja Argentina, está na vigésima-quarta posição entre cinquenta e três participantes, à frente de gente que já era nascida quando o VT do jogo vinha de avião do Chile e passava dois dias depois, fanáticos por futebol, engenheiros da Petrobras e etc.
Claro que ainda vai rolar muita jabulani por baixo das pernas desses beques pernas-de-pau (esperamos que dos deles...), mas sempre é uma lição de humildade para quem, como os comentaristas e brasileiros de um nodo geral, pelo menos a cada quatro anos, acha que manja muito de futebol. Viu, Dunga?
Deixa eu colocar minha (tá bom, da Clara...) vuvuzela a postos pra amanhã funcionar tudo direitinho. Ah, e assistir ao VT de Itália e Paraguai, claro.


Vem cá, já pensou rever esse lance com essas 32 câmeras da Copa de agora? Quem sabe a bola até entrava...