terça-feira, 31 de agosto de 2010

ESCOL@


Em andanças lá pelo site de (como dizem niteroeienses e baianos, em vez do do carioca) Leoni, criei o ESCOL@ - EScritório de COnsultoria de Letras @lheias, pra dar palpites não solicitados (embora geralmente bem aceitos) nas letras dos concursos.

Parêntesis rápido: rola até quinta (2/9) uma votação, estou apoiando o meu amigo Nuno Rau, com sua Influência da Bossa. Cliquem AQUI pra votar.
Pois bem. O ESCOL@ aplica conceitos aprendidos nas oficinas de letra de música de Fred Martins, Francisco Bosco e Marcelo Diniz, nos 40 anos de audição de boa música, nas paródias e letra compostas e por aí vai. Mas sempre na brincadeira, pois tudo isso só me deu a certeza de que não há receita pra se fazer uma letra de canção.

Como bem demonstram dois dos professores citados, Fred e Marcelo, neste soneto do segundo que virou canção no violão do primeiro, retirado do conciso e incrivelmente lindo livro artesanal DE AMOR E SOBRE (Oficina Raquel, 2008), cuja capa encima este post.

A canção tem uns acordes beatle de Strawberry Fields e/ou Álbum Branco com um que de Luiz Gonzaga que não sei definir. Talvez só na minha cabeça. De todo modo, calo-me, para que vocês ouçam:











DEPRESSA A VIDA PASSA
(Fred Martins – Marcelo Diniz)

Depressa a vida passa, mal se sente
e tudo já parece diferente:
o que doeu um dia hoje é dormente,
o amanhã não se lembra do presente;

e mal tudo é passado, o mais recente
começa a tecer o recorrente:
a cada ruga tudo é mais ausente,
o tempo foge e sempre leva a gente;

fascina como a infância é inocente:
eterno no vigor do adolescente,
no idoso, ainda crepita o sol poente;

fascina como tudo é transparente:
depressa a vida passa e, de repente,
desfaz-se, n´água, a face que a ressente.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Recuerdos de Icaraí

Esse título de postagem, malgrado meu reduzido pendão para o saudosismo e a recordação, poderia caber em um sem número de capítulos de minha autobiografia a não ser escrita. Mas no presente caso, refere-se à tarde agradável de poemas, canções e afeto familiar de ontem, chez Mattoso, na referida e sempre mágica Icaraí, por motivo do aniversário de meu padrinho.
Outros que cantem, com verve, propriedade, veias e artérias poéticas, sua trajetória. Yo vengo a oferecer mi corazón.
Naquela tarde vi chover palabras y canciones. Ao som do violão de meu primo, companheiro de ano de desembarque no planetinha azul e de infância, já na maresística e querida Icaraí, Roberto Mattoso, desfiou-se um perolário de músicas em espanhol. Apesar das ameaças, Pad não concretizou sua versão para Volver, "o maior dos tangos". A conexão estava lenta pra buscar a cifra, sabe como é, etc.
Mas de Fito Páez a Mercedes Sosa, com pitadas de Violeta Parra, e outros, com uma leve incursão a Caetano, a tarde passou entre histórias de latinoamerica, naqueles tempos, inlcuindo o patriotismo adolescente de Elisa Queirós, cantora, prima e etc. Cliquem no blog dela e saibam mais dessa família, e da vida bonita possível, apesar.
Falou-se de tangueros já bailando bem acima: Tio Zé e sua coleção de tangos desaparecida (gosto de pensar que rodando incessantemente no toca-discos de algum sincero amante da canção portenha); meu pai e seu caderninho datilografado de letras, com a epígrafe: "Si se pudiera pintar la musica, el tango tendría todos los colores del arco-iris". Ou algo semelhante. Googlei e não achei. Melhor assim.
A mim a Marinha, o carinho dos seus, a Portela, as crônicas do mar, de Minas e alhures, embora testemunhem a vida do Pad, não valem a primeira vez que "dirigi" um fusquinha em seu colo, na sossegada Icaraí de uma travessa no princípio dos 70, ou o ingresso do jogo em que Pelé fez o milésimo gol, ou a gentil cessão do local para a festa de meu casamento, ou o método mnemônico de gravar o nome de minha mulher com uma abertura de samba-enredo da Mangueira, em um trocadilho infame e revelador de seu humor. Ou a retomada de um convívio que sempre foi mais intenso que extenso, agora através das fibras óticas da web.
Parece um sinal, um fado, uma comprovação de que o universal mora em cada aldeia, que toda essa tarde tenha se dado na doce Icaraí, onde todabía "alguién tejió la sed usando hilo de mar y calma de mujer, y el tiempo cae, cae, cae" (da canção El Tiempo, de Silvio Rodrigues, de quem outro dia comprei num sebo o livro de letras e partituras Canciones del Mar, - Ediciones Ojalá - para presentear um amigo recente, yo no creo em acasos, pero que los hay).
Esse amor pelo bairro, o mais universal que se acha, me veio esta semana assitindo um show do Galocantô, que faz um passeio pelos morros e locais do Rio. E eu, icaraiense nascido no centro de Niterói, hoje morador da Aldeia Campista, Grande Tijuca, com uma filha quase carioca nascida na Barra, me emocionei com o que não vivi: "naquele tempo não tinha celular / o encontro era na porta da C&A".
Isso tudo são coisas que pontos luminosos em uma tela não expressam, por isso encerro o post e te doy una canción
(na verdade duas, aprendi esta na tarde: "soy pán, soy paz, soy más". Sejamos.)
SOY PÁN SOY PAZ SOY MÁS
(Piero)

yo soy yo soy yo soy
soy agua, playa, cielo, casa blanca
soy mar atlántico, viento y américa
soy un montón de cosas santas
mezclado con cosas humanas
cómo te explico cosas mundanas.

fui niño, cuna, teta, techo, manta
más miedo, cuco, grito, llanto, raza
después mezclaron las palabras
o se escapaban las miradas
algo pasó... no entendí nada.

vamos, contame, decime
todo lo que a vos te está pasando ahora
porque sino cuando está
tu alma sola llora
hay que sacarlo todo afuera
como la primavera
nadie quiere que adentro algo se muera
hablar mirándose a los ojos
sacar lo que se pueda afuera
para que adentro nazcan cosas nuevas
.

soy pan, soy paz, soy más, soy el que está (por acá)
no quiero más de lo que quieras dar
hoy se te da y hoy se te quita
igual que con la margarita
igual el mar igual la vida.