sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Recuerdos de Icaraí

Esse título de postagem, malgrado meu reduzido pendão para o saudosismo e a recordação, poderia caber em um sem número de capítulos de minha autobiografia a não ser escrita. Mas no presente caso, refere-se à tarde agradável de poemas, canções e afeto familiar de ontem, chez Mattoso, na referida e sempre mágica Icaraí, por motivo do aniversário de meu padrinho.
Outros que cantem, com verve, propriedade, veias e artérias poéticas, sua trajetória. Yo vengo a oferecer mi corazón.
Naquela tarde vi chover palabras y canciones. Ao som do violão de meu primo, companheiro de ano de desembarque no planetinha azul e de infância, já na maresística e querida Icaraí, Roberto Mattoso, desfiou-se um perolário de músicas em espanhol. Apesar das ameaças, Pad não concretizou sua versão para Volver, "o maior dos tangos". A conexão estava lenta pra buscar a cifra, sabe como é, etc.
Mas de Fito Páez a Mercedes Sosa, com pitadas de Violeta Parra, e outros, com uma leve incursão a Caetano, a tarde passou entre histórias de latinoamerica, naqueles tempos, inlcuindo o patriotismo adolescente de Elisa Queirós, cantora, prima e etc. Cliquem no blog dela e saibam mais dessa família, e da vida bonita possível, apesar.
Falou-se de tangueros já bailando bem acima: Tio Zé e sua coleção de tangos desaparecida (gosto de pensar que rodando incessantemente no toca-discos de algum sincero amante da canção portenha); meu pai e seu caderninho datilografado de letras, com a epígrafe: "Si se pudiera pintar la musica, el tango tendría todos los colores del arco-iris". Ou algo semelhante. Googlei e não achei. Melhor assim.
A mim a Marinha, o carinho dos seus, a Portela, as crônicas do mar, de Minas e alhures, embora testemunhem a vida do Pad, não valem a primeira vez que "dirigi" um fusquinha em seu colo, na sossegada Icaraí de uma travessa no princípio dos 70, ou o ingresso do jogo em que Pelé fez o milésimo gol, ou a gentil cessão do local para a festa de meu casamento, ou o método mnemônico de gravar o nome de minha mulher com uma abertura de samba-enredo da Mangueira, em um trocadilho infame e revelador de seu humor. Ou a retomada de um convívio que sempre foi mais intenso que extenso, agora através das fibras óticas da web.
Parece um sinal, um fado, uma comprovação de que o universal mora em cada aldeia, que toda essa tarde tenha se dado na doce Icaraí, onde todabía "alguién tejió la sed usando hilo de mar y calma de mujer, y el tiempo cae, cae, cae" (da canção El Tiempo, de Silvio Rodrigues, de quem outro dia comprei num sebo o livro de letras e partituras Canciones del Mar, - Ediciones Ojalá - para presentear um amigo recente, yo no creo em acasos, pero que los hay).
Esse amor pelo bairro, o mais universal que se acha, me veio esta semana assitindo um show do Galocantô, que faz um passeio pelos morros e locais do Rio. E eu, icaraiense nascido no centro de Niterói, hoje morador da Aldeia Campista, Grande Tijuca, com uma filha quase carioca nascida na Barra, me emocionei com o que não vivi: "naquele tempo não tinha celular / o encontro era na porta da C&A".
Isso tudo são coisas que pontos luminosos em uma tela não expressam, por isso encerro o post e te doy una canción
(na verdade duas, aprendi esta na tarde: "soy pán, soy paz, soy más". Sejamos.)
SOY PÁN SOY PAZ SOY MÁS
(Piero)

yo soy yo soy yo soy
soy agua, playa, cielo, casa blanca
soy mar atlántico, viento y américa
soy un montón de cosas santas
mezclado con cosas humanas
cómo te explico cosas mundanas.

fui niño, cuna, teta, techo, manta
más miedo, cuco, grito, llanto, raza
después mezclaron las palabras
o se escapaban las miradas
algo pasó... no entendí nada.

vamos, contame, decime
todo lo que a vos te está pasando ahora
porque sino cuando está
tu alma sola llora
hay que sacarlo todo afuera
como la primavera
nadie quiere que adentro algo se muera
hablar mirándose a los ojos
sacar lo que se pueda afuera
para que adentro nazcan cosas nuevas
.

soy pan, soy paz, soy más, soy el que está (por acá)
no quiero más de lo que quieras dar
hoy se te da y hoy se te quita
igual que con la margarita
igual el mar igual la vida.

3 comentários:

  1. Querido primo Luiz Henrique,

    sou filha do Paulo Mattoso (irmão do Kid, seu Pad) e lembro-me de seus pais, tão amorosos conosco, e de você, ainda muito pequeno, num apartamento no Centro de Niterói. A distância geográfica nos afastou, mas como você bem disse, a web (amo a web!) nos uniu novamente. Volta e meia vejo créditos do tio Luizinho a você, quando envia algum vídeo, algum texto interessante e nunca lhe perguntei: quem é esse Luiz Henrique? Agora o sei mais próximo do que imaginava e adorei sua descrição da tarde de 26 de agosto em Icaraí. Abraços para você e família e para sua mãe, a doce Ana Amélia. Karla
    A seguir, palavras de meu pai para você:

    Prezado Luiz Henrique,

    antes de abordar o "Recuerdo de Icaraí", queria lembrar fatos do passado, ocorridos em casa de tio Gagá e Didi (Hildegardo e Margarida) na rua Voluntários da Pátria. Não sei se você sabe, mas seu pai, Ite, era muito mais velho do que eu. Ele nasceu em 04 de fevereiro de 1932, e, duas semanas mais tarde, eu aterrissava na rua da Praia, em Macaé (Macaé sur mer). Voltando à Voluntários da Pátria, depois do banho, Didi nos colocava sentados na mesa (kid também) e, todos flamenguistas, graças a Deus, pedíamos que ela nos penteasse como os craques do Mengão. Ite queria ser penteado como Valido, o craque argentino, "puntero derecho"; Luizinho, como Jurandir, goleiro e eu - aí veio o problema - queria ser penteado como Leônidas, o diamante negro...
    Voltando ao Recuerdo de Icaraí, gostei muitíssimo de suas palavras comentando os desdobramentos do almoço pelo aniversário do seu Pad no apartamento do Bé e Madu. Tudo o que foi dito sobre tangos me fez lembrar do Zé Américo, profundo conhecedor da música portenha. Vou repetir minha mãe: "nada se compara a uma reunião de família".
    Um grande abraço para você e lembranças à Ana Amélia,

    do primo Paulinho.

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  2. Compadre Luiz,
    Para mim, seu mais lindo post entre tantas lindezas e escritos interessantes dos seus vários correios.
    Suas palavras cheias de sentimento me recordaram outras tantas tardes inesquecíveis, formadores de nossa alma, nosso caráter e nosso senso de humor.
    !Que vengan otras más!

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  3. O Correio do ETC ficou orgulhoso do alcance deste post.
    Descobrir depois de tantos anos que Papai queri aser penteado como Valido, autor do gol que deu o primeiro tricampeonato carioca ao Flamengo, tem seu valor. Um abraço a Paulinho. Curiosidade rápida: minha esposa-enredo, citada no post, sempre acha engraçado eu falar do pai do meu Pad e de Paulinho, que teria hoje, sei lá, mais de cem anos, como Paulo. Assim, sem Tio, sem nada. No meu tempo não se chamava todo mundo de Tio, e já não se chamava de Primo. Ficou Paulo, eu com quatro, cinco anos, e ele já avô de vários netos mais velhos que eu.
    Obrigado a Karla e Let pelas palavras. Tô meio espanholado até hoje, ouvindo Jorge Drexler sem parar...

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