sexta-feira, 1 de abril de 2011

Think Pink! (or lavender...)


Por conta de minha condição de pai de uma menina de seis anos, assistir a filmes da Barbie (e séries da Disney, e da Nick, e desenhos do Discovery, e ...) é uma ocupação que vem no pacote. Eu sinceramente não ligo e até gosto, porque além de os estúdios cuidarem sempre para que haja algum tipo de atração para pais nas produções, sempre se tira alguma interpretação psicosocioantropológica de araque da experiência.

Vinha adiando há tempos um post sobre o penúltimo filme da Barbie, Moda e Magia, e hoje após ver o último, O Segredo das Fadas, pago a dívida. O que me chamou a atenção em Moda e Magia (2010) foi que ali, ao contrário dos outros filmes de sua filmografia (19 nessa fase século XXI), a Barbie não representa um papel (Princesa da Ilha, Rapunzel, Sereia, Fada do Campo etc), mas aparece como ela mesma, uma estrela de cinema demitida de seu filme, no qual o diretor quer pôr zumbis em A Princesa e a Ervilha, uma brincadeira com a (imperdoável) moda de mashups, tipo Orgulho e Preconceito e Zumbis (eca!), Bom, no filme (e aqui peço vênia pra contrariar todos os princípios do M.A.T.E. - Movimento Anti-Trailer Explícito) a Barbie viaja a Paris e descobre um guarda-roupa mágico onde as fadas encantam vestidos e etc.

O que me fascinou na trama do filme foi essa passagem fluida do realismo à fantasia, que não me lembro de ter visto algures. Estabelece-se uma relação direta com a vida da Barbie enquanto celebridade, reflexo claro da era que vivemos, e a fantasia entra sem pedir licença, num cumprimento talvez involuntário ao primado da ilusão e à confusão das tênues fronteiras entre o real de cada lado das telas, tão presente em nosso cotidiano super-excitado pelos estímulos visUAUditivos.

No atual O Segredo das Fadas há um passo atrás dos roteiristas, talvez assutados com a ousadia anterior, e embora a trama tenha o mesmo princípio, agora ambientada na cidade mágica das fadas, Gloss Angeles (boazinha, não?), ao fim da aventura (em que a Barbie salva o Ken, claro, é função dela dar poder às meninas - há quem se horrorize, mas provavelmente são as mesmas que reclamam do machismo em todas as outras ocasiões. Tem gente que nunca está satisfeita.), as fadas fazem uma mágica para que todos os humanos envolvidos pensem que tudo foi um sonho (nova essa, não? - alguém disse Shakespeare aí?). O detalhe é que, mesmo tudo tendo sido um sonho, os personagens aprendem com a experiência e modificam sua maneira de ser. (alguém disse Freud e Lacan aí?)

Aguardo ansioso (na verdade relaxado, a ansiedade é outro revés da tal sociedade hiperexcitada a que tento bravamente resistir) Barbie e a Escola de Princesas, no segundo semestre de 2011 ("Por que eles anunciam com tanta antecedência, a gente fica ansiosa!!!!" - Clara, 6 anos, geração @nsiedade, valei-me todos os santos da literatura infantil e do ensino montessoriano!), pra ver que caminhos aponta a filmografia barbiana.

O Segredo das Fadas, como todo filme dela, tem mensagens positivas cercadas de muito estímulo à moda, maquiagem e consumismo, mas algo em mim nesse caso discorda da análise do fora isso ótimo site Common Sense Media, infelizmente só em inglês, e que é uma mão na roda na hora de acompanhar criticamente as preferências da galerinha na mídia e web afora. Pra mim, as mensagens da Barbie superam em benefício o mal que o consumismo estimulado causa, mas sei que é discutível.

Se a amizade forte entre as meninas é sempre um valor Barbie, neste filme as amigas são inimigas de escola e na adversidade são obrigadas a conversar presas numa mesma cela cujas paredes são feitas da energia da raiva da princesa Graciela (uau!) e ali, com tempo, longe da correria do dia-a-dia (superexcitação das sensações etc) discutem a relação, fazem as pazes no que foi um desentendimento fundado em mal-entendidos e a força dessa amizade rompe as cadeias da ira e tcha-ran!

Ironia à parte, é bonito. E a frase que encerra os créditos é "o perdão te faz voar". Bonito e verdadeiro.

A voz da Barbie nos filmes mudou de Kelly Sheridan para Diana Karinna nos últimos filmes. Fora dos desenhos ninguém está ficando da mesma idade e a Mattel queria alguém com uma voz mais nova que a dos impraticáveis 3o e poucos anos da atriz. Vida que segue...

Ah, o título da postagem refere-se à sutil mudança de tom nas cores do mundo da Barbie, por exemplo, na mochila atual da minha filha, de Moda e Magia, predomina o lilás. E, não, eu não acho que minha porção mulher é a porção melhor, no máximo uma tão boa quanto outra qualquer, mas qualquer motivo é bom pra ouvir Caetano cantando uma música de Gil:



quem sabe...

3 comentários:

  1. Adorei a temática, a cor e a análise... Ainda estou na fase das princesas Disney, mas tenho certeza que minha Olivia será uma entusiasta de toda a cultura pink-power e eu fui provavelmente uma das primeiras meninas brasileiras a ter Barbie, lá nos late seventies portanto...
    E eu, abençoada pela Roda de Mães, fico curtindo a possibilidade de viver o feminino de forma lúdica... E o perdão te faz voar é demais. Belo complemento para o Leonardo Boff!

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir